Cia de Dança do Pantanal se apresenta nesta sexta, em frente ao IMNegra, em Corumbá

Apresentação será no encerramento da oficina ‘Da inspiração ao croqui – upcycling em jeans’, promovida pelo FASP

A Cia de Dança do Pantanal se apresenta, nesta sexta-feira (27), a partir das 16h, em frente ao IMNegra (Instituto de Mulheres Negras do Pantanal), no centro de Corumbá. A apresentação será no encerramento da oficina ‘Da inspiração ao croqui – upcycling em jeans’, ministrada por Anderson Bosh e Luiz Gugliatto, figurinista da companhia.

O coreógrafo da Cia de Dança do Pantanal, Wellington Julio, explica que será apresentado o espetáculo Migrante, que fala do vai e vem e das dores e alegrias causadas por este movimento feito por migrantes e imigrantes.

“O Migrantes é um trabalho que conta um pouco sobre a realidades dos que vêm e vão. Várias vezes, essas pessoas são esquecidas. E a apresentação fala um pouco dos amores que a gente deixa para trás quando saímos de um lugar em busca de algo novo. Fala também sobre a felicidade e sobre ser acolhido. Muitas vezes, a gente quer cantar, falar, ser ouvido e, às vezes, a gente não consegue. Dependendo do tom da sua pele, do formato do seu rosto ou do seu corpo. Dependendo de quem lhe puxa para trás e para frente também”, afirma.

O espetáculo foi criado a partir de depoimentos colhidos no processo de criação, tanto de migrantes quanto de imigrantes. Os depoimentos se tornaram movimentos que, agora, são apresentados pelos bailarinos da companhia, que vestem figurino criado por Gugliatto.

O stylist, produtor de moda e figurinista, Luiz Gugliatto, explica que o tema escolhido para o outono/inverno deste ano é o poder da sustentabilidade para o planeta. “A coleção busca o casamento entre ser sustentável e ser confortável, enquanto as modelagens foram pensadas para pessoas que buscam estilo e beleza, sem perder a praticidade e funcionalidade que os dias atuais exigem. O reuso do jeans e outros materiais é fundamental para transformar o produto usado em uma peça nova”, conta.

No domingo (29), último dia de festival, a Cia de Dança do Pantanal, criada há cinco anos no Moinho Cultural, volta a se apresentar. Desta vez, no Palco Rio Paraguai, no Porto Geral, com o trio Hermanos Irmãos, formado por Márcio De Camillo, Jerry Espíndola e Rodrigo Teixeira. Participam, ainda, da apresentação os músicos Carmen Monges (Paraguai) e Ruben Goldin (Argentina). O show é a última atração do festival.

SERVIÇO
Apresentação da Cia de Dança do Pantanal no IMNegras
Quando: Sexta-feira (27), às 16h
Local: Instituto Mulheres Negras do Pantanal (Rua Delamare, 949 – Centro, Corumbá)

Migrantes por Marco Aurélio Machado de Oliveira*
De quantos mediterrâneos são feitos nossos mundos? Alguns gigantescos, ganham força e voz nas notícias de jornais. Outros tão minúsculos que só cabem nas pegadas que deixam em nossas frentes. Uns visíveis, geram comoções e empáticas manifestações. Outros tão pálidos, que apenas os abandonos verbais podem alcança-los.

E o espetáculo Migrantes da Companhia de dança do Pantanal leva a refletir sobre quantas lutas épicas ou inglórias, calculadas ou precipitadas no seu fim, são feitos nossos gestos de acolhimento. Algumas registradas, comentadas, prometidas e esquecidas. Outras, cuja luminosidade atinge a quem interessa, sequer são sabidas.

E, entre tantas coisas, há um tempo que salva, o da arte. Assim me ensinou Manoel de Barros. E diferente do olhar poético para um firmamento prestes a desaparecer, ou de uma canção predestinada em tantas esquinas, a migração e a arte não têm finais. Bem fez isso Márcia Rolon, Rolando Cândia e Wellington Júlio, restaurando nossos caminhos secos.

E, falando em finais, quantas fronteiras eles devem passar e sonhos têm que ser deixados ao lado dos naufrágios diariamente enfrentados? Quantos vigores devem ser testado sob a malha fria da indiferença? Quantos modos de namorar ou amar, rituais de milagres que lembram seus avós, idiomas, cores de pele e registros de passaporte precisam ser tatuados nas decisões de aceita-los ou não?

Nesse enredo, tão forte e composto de riscos de faltas de vidas e políticas, a arte traz memórias, que não encerram em mim, tampouco em vós. O Moinho Cultural nos reaviva uma curva esperançosa. E disso não podemos abrir mão. Assim como os migrantes, a arte nos impõe sentidos, deixando a ideia de repetição incontida como ela realmente é: sem valor.

*Professor na UFMS, poeta e Conselheiro do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano

 

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