Companhia de Dança do Pantanal abriu seleção para 2 vagas e mais de 30 candidatos de várias regiões do País se inscreveram
Os olhos do tutor estão atentos a cada movimento: giro, pirueta, posição de braços e pernas e expressão facial. O corpo do tutor também faz parte do processo, porque ele não só observa, mas executa passos.
Exercício, mais exercício, durante 7 horas por dia, ao longo de, pelo menos, cinco dias da semana. O vestibular para quem quer entrar em uma Cia. de dança é feito de esforço, além do estudo e da prática, e envolve a superação.
A Cia. de Dança do Pantanal abriu seleção e 30 candidatos do Brasil criaram a esperança para preencher duas vagas que foram abertas.
A possibilidade de ir para Corumbá integrar a única Cia. de dança regular que existe entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é uma projeção que mais de uma dezena de bailarinos almeja, vislumbrando as apresentações nacionais e internacionais do calendário de 2022.
Para conseguir passar por todas as fases é necessário que o candidato tenha dedicação. A relação candidato/vaga demonstra o quanto o interessado precisa desdobrar-se para ser selecionado.
Para a Cia. De Dança do Pantanal, a concorrência é de 15 candidatos por vaga. Esse número é semelhante a disputas para outras seleções em instituições também de renome, como a USP, no caso de artes cênicas, concorrência de 18 candidatos por vaga; porém, muito acima de seleções como de música também na USP, com concorrência de 5,4 candidatos por vaga.
A diferença é que para a Cia. do Pantanal quem for selecionado entra para um seleto grupo de profissionais da dança, que ainda desenvolvem em Corumbá a formação de intérprete-criador.
A participação de processo seletivo tão exigente envolve, inicialmente, preenchimento de ficha de inscrição, envio de material prévio, apresentações de dança, currículo.
Tudo isso passa por uma seleção e uma nova peneira acontece. A segunda etapa envolve maior nível de dificuldade, porque é a convocação para passar por 35 horas de avaliação, o que está ocorrendo ao longo desta primeira semana de março, na sede do Instituto Moinho Cultural, em Corumbá.
Dos 30 candidatos que tentaram as duas vagas, apenas cinco acabaram sendo selecionados para passar pelo crivo dos examinadores, entre eles bailarinas e bailarinos do Rio Grande do Norte, São Paulo, Distrito Federal e Campo Grande.
Além do teste, essa etapa garante um momento importante para um bailarino que está em busca de se consolidar, pois ele passará por uma semana de aula, algo que custa mais de R$ 10 mil e seria difícil para muitos integrar um workshop desse nível.
Seleção
A seleção da Cia. de Dança do Pantanal está sendo feita com os olhares atentos de profissionais que atuam em Corumbá, dentro do Moinho Cultural, como com apoio da expertise de quem está fora da cidade.
Um desses avaliadores externos é o coreógrafo Chico Neller, que tem mais de 40 anos de dedicados à dança e aos títulos conquistados em Joinville (SC), além de ser uma referência nacional.
Beatriz de Almeida é outro expoente da dança nacional que faz parte do grupo de avaliadores deste ano da Cia. do Pantanal.
A bailarina que foi do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, do Stuttgart Ballet (Alemanha) e do Ballet de Zurique (Suíça) é madrinha de dança do projeto Moinho Cultural e sua relação é profissional e afetiva com a Cia.
Integrantes da casa ainda completam o quadro de tutores. Dois deles são os cubanos Rolando Candia e Mayda Riveiro. Ele é maestro e diretor da Cia. de Dança do Pantanal, com mais de 40 anos de experiência no mundo do balé e já passou pelo Incolballet de Cali (Colômbia), pelo Ballet Clássico e Moderno Municipal de Assunção (Paraguai), além da Escola Municipal de Bailado de Ourinhos (SP). Ela é também maestra, experiência de décadas no mundo da música e coreógrafa.
Um outro elo para formar esse grupo selecionador é o mineiro de Viçosa Wellington Julio, bailarino que percorreu o Brasil, muito dedicado à dança contemporânea e foi o coreógrafo de alguns trabalhos da Cia. de Dança do Pantanal, entre eles a apresentação do “Dança em Trânsito”, realizada no Rio de Janeiro e com turnê marcada neste ano para a França, no mês de setembro.
“Nós, da Cia. de Dança do Pantanal, estamos caminhando para um novo patamar. Nascemos em 2017 e estamos entrando no quinto ano.
A Cia. é um produto que saiu do Moinho Cultural, e estamos com expectativas muito boas para 2022. Por isso estamos com essa seleção, que está avaliando não só novos integrantes, mas até mesmo os bailarinos que já integram o grupo”, reconheceu a diretora artística Márcia Rolon.
Wellington Julio, que começou na Cia. em 2019, foi enfático ao mencionar que o crescimento do grupo foi grande em dois anos, mesmo com a pandemia da Covid-19 e a suspensão de eventos – nesse período, 62 criações foram feitas pelos integrantes da Cia., justamente pelo fato de haver a cobrança que eles se formem como intérprete-criador.
Futuro promissor
O coreógrafo projeta um futuro promissor para daqui a alguns anos. “O que nós alcançamos desde quando cheguei aqui, por conta dessa estrutura que existe, da união de todos, do apoio que é dado, é um diferencial.
Por isso tenho muita certeza que daqui a cinco anos, a Cia. de Dança do Pantanal vai estar em um patamar que nenhuma outra Cia. do interior do Brasil vai se encontrar e o reconhecimento nacional vai ser maior”.
Com seus mais de 40 anos de vivência na dança, Chico Neller reafirmou a opinião de Wellington Julio. “Nos últimos nove, oito anos, o que vemos é o fechamento de companhias pelo Brasil. O bailarino que quer crescer precisa ir embora do País.
A Cia. de Dança do Pantanal fez o caminho inverso, ela está estruturada, crescendo. Quem dança, quer vir para cá para se destacar”.
Como madrinha de dança do Moinho Cultural, Beatriz de Almeida apontou que cidades fora do eixo das capitais têm o potencial para se tornarem referência na dança e Corumbá construiu essa realidade.
“Na cidade grande, onde há acesso a muitas coisas, a dança já é um caminho difícil. Podem achar que no interior isso vai ser mais complicado. Porém, é no interior que existem possibilidades. Os jovens têm menos lugares para ir, então que eles vêm dançar. É fantástico ver o que está acontecendo aqui em Corumbá. Temos uma companhia com identidade, com união”.
Cronograma
A definição dos selecionados para formar os 10 integrantes da Cia. de Dança do Pantanal só deve sair nesta semana.
Ainda há a possibilidade que duas novas vagas sejam criadas. Uma bailarina de 19 anos de Campo Grande, a mais nova a ser selecionada para esta fase decisiva, sentiu-se mal e teve suspeita de Covid-19, por isso ainda pode passar por avaliação até a terça-feira, caso receba a confirmação que testou negativo.
Todos os participantes precisaram apresentar teste negativo para Covid-19.
“O Brasil tem uma riqueza cultural imensa. José Martí [político cubano do século 19 e revolucionário] disse: ‘Ser culto para ser livre’. Isso demonstra como é preciso ter um olhar para a cultura, para valorizar a história, uma identidade de um local.
A arte faz isso, e estamos vivendo uma parte dessa valorização aqui. Esse projeto é um facho de luz para esses novos profissionais”, sintetizou Rolando Candia.
Além dos profissionais da dança, duas vagas de estágio para a Cia. estão sendo disputadas por jovens que vivem em Corumbá e Ladário e pertencem ao projeto Moinho Cultural. A Cia. de Dança do Pantanal procura manter uma proporção entre 50% a 60% de integrantes que vivem na região de fronteira do Brasil com a Bolívia.
Fonte: https://www.correiodoestado.com.br/correio-b/candidatos-de-todo-o-pais-querem-dancar-em-companhia-de-ms/397279?fbclid=IwAR1FiyPxfwk5n0I8hk3cwR03kA8KrFXGt8DTuHKWGxsSQaPVlxsPr_mDDCA